Tenho a sorte de gostar de jogos fora do eixo futebol/carro/luta e preferir os adventures e RPGs.
Caso contrário não teria conhecido essa jóia (quase) desconhecida entre bilhões de jogos lançados pra Playstation 2.
Conta basicamente a história bem conhecida (pra quem é ligado em mitologia, como eu) do dragão-serpente de 8 cabeças Orochi e sua tirania que levava os habitantes de um povoado sacrificar uma jovem virgem a fim de salvar suas vidas. Um dia um deus chamado Susano-o sabendo disso resolveu dar uma lição no monstro: se vestiu de donzela e esperou na noite em que Orochi ia pegar a menina e colocou uma bacia de sake em cada entrada do templo. Esperou lá dentro até a noite.
Orochi veio buscar "carne nova" e deu de cara com as bacias de sake. Cada cabeça bebeu uma bacia de sake, e a cobrona ficou chapa.
Aproveitando o bafão, Susano-o cortou todas as cabeças da serpente e libertou o vilarejo. Como é de praxe, ficou com a donzela que ia ser sacrificada naquele ano.
Em Okami a história acontece 100 anos depois dessa história. Mas não é Susano que destrói a besta, é um guerreiro chamado Nagi em compahia com um lobo celestial chamado Shiranui.
Orochi revive e espalha as trevas pelo Nippon, a única esperança é Amaterasu, a deusa do sol que encarnou numa estátua do lobo celestial Shiranui que tem o poder de trazer a vida a tudo que toca. O legal é que vc controla o lobo branco durante todo o jogo.
Em compahia de Issun, um insetinho tarado e chato bagarai (a vozinha mimimi dele enjoa, e o pior que ele é o "porta voz" de Amaterasu, que se limita a agir como um lobo) eles saem pelo mundo revivendo as árvores sagradas e expulsando as trevas.
A arma de Amaterasu é um refletor solar nas costas (que também pode ser uma espada ou um rosário) que ele usa pra pénabundear os inimigos (yokais, fantasmas... Monstros sinistros da mitologia japonesa. Conheço a maioria) ou então um pincel. Sério!
Apertando e segurando R1, a tela congela e o pincel aparece. Vc pode desenhar na tela o que quiser e usar os poderes dos 13 deuses (todos baseados nos signos chineses, mais o gato) pra te ajudar no jogo. Fazendo um risco horizontal reto num inimigo, vc corta ele no meio. Circular uma árvore seca faz ela florescer. Desenhar um círculo no céu faz o sol aparecer (transformando a noite em dia), ou de noite desenhar um "C" faz a lua aparecer (e transformar o dia em noite). Um pontinho no chão se transforma numa árvore. Acho incrível!
Cada um dos deuses dá um poder pra vc depois que é descoberta uma constelação no céu. Nessas horas aparece a constelação incompleta e com o pincel deve-se fazer um pontinho onde deveria ter estrelas. Daí o deus aparece e te concede um poder dependendo de sua natureza (o dragão te permite restaurar coisas, a serpente te dá o poder de controlar a água, o gato faz vc subir pelas paredes, o carneiro faz o tempo congelar, e por aí vai...).
Original pra caramba!
Os gráficos foram criados pra lembrar aquelas pinturas japonesas. Não há "realismo" em nenhuma parte do jogo. Tudo parece ter sido feito com nanquim mesmo em papel de arroz. É um charme sem igual que isso deu ao jogo. E também permitiu criar um jogo gigantesco, já que com gráficos menos sofisticados coube mais coisas dentro do DVD.
Na primeira vez que eu virei, fechei com 40 horas e não descobri tudo (apesar do meu Ranking A). Realmente vicia!
Não há vozes no jogo além de um resmungo dos personagens... Nhenhenhe nhonhonho nho nhenhenhe. Chega a ser bizarro ver alguns coadjuvantes falando.
Mas as musicas (totalmente instrumentais) são perfeitamente encaixadas com cada cenário. A musica relacionada a histórias sobre criaturas malignas é de arrepiar, sério mesmo, dá medo ouvir ela enquanto aquelas imagens de pergaminho são desenroladas e algo do tipo:
-Dois demônios gêmeos guardam essa montanha desde os tempos remotos, mas com o poder do mal que se espalhou pelo mundo, eles enlouqueceram e estão congelando pouco a pouco esta terra que sempre sofreu com os monstros das trevas.
Sinceramente, é difícil achar defeitos graves no jogo.
A unica coisa que pode te broxar um pouco é que o jogo te ajuda muito. Há uma dificuldade enorme em morrer quando se chega a um certo nível.
Se vc cai num buraco por exemplo, recomeça da porta de entrada da sala, sem uma unidade de energia, mas facilmente reposta no primeiro vaso que tiver dando bobeira. E existe um logo do seu lado. Uma cabeçadinha e pronto.
Na primeira vez que eu joguei, durante as 40 horas de jogo eu só morri UMA vez de fato. Só uma. E olha que eu procurava sarna pra coçar toda hora. Não deixava um inimigo escapar (deve ser por isso qu eu demorei tanto pra terminar).
Recomendadíssimo!
E como todo curioso, fui buscar alguma coisa sobre a tal Amaterasu. A verdadeira, vinda do xintoísmo. É intrigante sua lenda. Assim como seu país de origem.
"Amaterasu vivia em uma gruta, em companhia de suas criadas, que lhes teciam cotidianamente um kimono da cor do tempo. Todos os dias de manhã, ela saía para iluminar a Terra. Até o dia em que seu irmão, Susano-o, deus do Oceano jogou um cavalo esfolado nos teares das criadas tecelãs. Assustadas, elas se atropelaram, e uma delas morreu, com seu sexo furado por sua própria laçadeira.
A deusa Amaterasu não apreciou a brincadeira: não gostava de cavalo cru.
Zangada, recolheu-se em sua gruta e a luz desapareceu. E o pânico foi semeado até no céu, onde viviam os deuses e as deusas, que como os humanos, também não enxergavam nada. Eles se reuniram e bolaram uma estratagema. Pediram a Uzume, a mais engraçada das deusas, que os distraísse diante da gruta fechada em que Amaterasu estava amuada. Uzume não usou de meios termos: levantando a saia, pôs-se a dançar provocantemente, exibindo suas partes íntimas com caretas irresistíveis. Estava tão divertida que os deuses desataram na gargalhada...
Curiosa, Amaterasu não aguentou: entreabriu a pedra que fechava a gruta, e os deuses lhe estenderam um espelho onde ela viu uma mulher esplêndida. Surpresa, ela se adiantou. Então os deuses agarraram-na e Amaterasu saiu para sempre de sua gruta. O mundo estava salvo."
Visualizaram?
Então... Não tenho mais o que comentar.
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